Você está aí, de bobeira, no trabalho, sem nada pra fazer? Cansado de ficar dando F5 em Facebook, Twitter, G1 e afins e não ter nada de novo para ler? Que tal um jogo de esquentar os miolos para se divertir? E se eu te disser que este jogo, além de ser obra de um grande nome da cena indie, é em flash, no seu browser, e completamente gratuito para jogar?
De nada, de nada.
O jogo em questão é Naya’s Quest, um jogo de puzzle-plataforma em flash baseado nas ilusões que uma visão isométrica pode acarretar em jogos de videogame. Ele também é a mais nova criação de Terry Cavanagh. Aí você me pergunta “E quem caralhos é esse puto no jogo do bicho?”. Pois bem, meu caro boca suja, Terry Cavanagh é um relativamente famoso autor de jogos indies, mais conhecido pelo incrivelmente fodástico (e dono de um nome deveras escroto) VVVVVV, sobre o qual eu já deveria ter escrito uma Sociedade dos Hipsters Mortos (sério, tá na lista desde que eu entrei no site) e do vício alucinante que é o Super Hexagon, o jogo cuja dificuldade mais baixa é Hard.
Mas e quanto ao Naya’s Quest? Este é mais um representante do gênero número 1 dos indies: Puzzle-Plataforma. “Been there, done that”, pensa o gringo lendo este texto com auxilio do google translator. Contudo, um dos mais visíveis diferenciais de Naya’s Quest é justamente a visão. O jogo é uma projeção isométrica, o que significa que a visão do jogo é de um ângulo meio de cima, e o mundo é formado por quadrados em um grid 3d (ou seja, com altura) similar ao utilizado em alguns RPGs táticos, por exemplo.
Alguns já devem estar torcendo o nariz, devido a fama que jogos de plataforma isométricos possuem de serem horríveis de jogar (com exceção do Super Mario 3D Land, onde o efeito 3d minimiza os problemas de perspectiva). Porém, como a área de jogo é formada em um grid e o pulo tem tamanho fixo, além do foco ser na resolução de puzzles ao invés de saltos que demandem habilidade, isto não chega a ser problema. Aliás, o pulo de início pode parecer uma coisa horrivelmente estranha, mas vai por mim, logo logo você estará agradecendo por ele ser como é.
Como quem acompanha a cena indie sabe, jogos de puzzle plataforma geralmente são definidos por alguma mecânica básica, como retornar no tempo em Braid, trocar de personagens com habilidades diferentes em thomas was alone, ou qualquer objeto poder te matar em Limbo. A mecânica principal de Naya’s Quest lembra muito alguns dos trabalhos do artista M.C. Escher.
Em Outro Castelo também é cultura: M.C. Escher era um artista cuja boa parte da obra se baseia em perspectivas estranhas e impossíveis, como esta:
Ou esta:
A influência dele pode ser vista em obras mais recentes como echochrome ou na cena da escada em Inception.
Pois bem, um dos grandes problemas da visão isométrica é justamente saber se algo está acima ou do lado de você, e Naya’s Quest usa justamente esta debilidade como base de seus puzzles. Em muitas salas, o caminho que parece óbvio na verdade é impossível pois na verdade o que parecia uma ponte era uma plataforma que estava em outro ponto mais alto. Então a dificuldade do jogo se encontra justamente em saber quais plataformas estão realmente ali, e qual o caminho que ele deve tomar.
Para auxiliar o jogador nesta confusão, logo no início do jogo ele ganha um scanner, que mostra exatamente quais plataformas estão no eixo em que o jogador se encontra no momento, e em que altura elas se encontram, através de algumas sombras que aparecem no chão. Com isto, o jogo se torna na prática uma exploração de como um mapa isométrico pode fuder com a sua cabeça, com o jogador tentando ao máximo entender qual o real layout da sala.
O jogo começa bem simples, mas logo a partir do segundo “mundo” já surgem algumas salas estressantes, que podem levar os mais impacientes a desistir e/ou esmurrar o seu PC, mas nada que um pouco de perseverança não resolva. Além disto, os momentos de Eureka são bastante satisfatórios, e nem uma vez me senti roubado enquanto jogava. E mais, quando você já está se perguntando, “Quem é o mestre?”, o jogo vai lá e adiciona variações na jogabilidade.
A história do jogo é contada através de narrações projetadas no cenário, e contam basicamente que Naya está em uma jornada para descobrir o segredo do mundo, que se encontra no “edge of the world”, uma jornada que já foi tentada antes por outras pessoas. Apesar da história ser interessante, o foco principal do jogo é realmente a jogabilidade.
O jogo, até mesmo por ser grátis e em flash, é bem curto se você tiver um mínimo de paciência e inteligência (você provavelmente levou mais tempo lendo este post que levaria para zerar o jogo). Porém, se você for um jumento, provavelmente ficará empacado para todo o sempre.
Concluindo, já que literalmente não custa nada, recomendo a todos que joguem Naya’s Quest. Afinal, garanto que todos vocês já fizeram coisa muito pior pagando!
PS: Se você gostou, o Sr. Nada Caverna disponibiliza também alguns outros jogos que ele fez em flash, inclusive hexagon, a versão protótipo do Super Hexagon.