”Por que você joga video-games?”.
Volta e meia esta pergunta encontra seu caminho de volta à mim, seja pela boca de um parente, amigo ou conhecido, especialmente uma vez que minha preferência pelos jogos demonstra-se maior do que por outras mídias de entretenimento. A resposta mais simples para isso seria simplesmente ”Porque é divertido.”, mas esta é uma justificativa bastante superficial e não totalmente verdadeira.
Certa vez ouvi que toda mídia de entretenimento é uma forma de escapismo. Não importa se estamos falando de literatura, cinema ou jogos, em todos buscamos algum tipo de experiência que divirja de nossa realidade. Não sinto a mínima vontade de acompanhar uma vida totalmente igual à minha, quero experiências diferentes, que acrescentem algo novo ao meu cotidiano. E uma vez que, diferente da vida que arremessa diversas coisas em nossa direção sem um ”levanta a cabeça” sequer, podemos escolher nossas fontes de entretenimento, eu fico imaginando o que estas escolhas dizem a nosso respeito.
Com este pensamento decidi atravessar para o outro lado da televisão e aprender um pouco mais sobre meu ”eu” verdadeiro, realizando uma autoanálise baseada alguns dos tipos de jogos que mais gosto.
–J-RPGs
Desde que me entendo por gente eu jogo J-RPGs. Mantendo-me no clichê básico, o primeiro J-RPG que lembro de ter visto foi Final Fantasy VII, e, como boa parte das pessoas da época, fiquei encantado com aquele visual e gráficos incríveis como eu jamais havia visto anteriormente.
Ainda não tendo condições de adquirir o jogo em questão, eu e meu irmão mais velho logo recorremos aos emuladores, afim de aprender mais sobre aquela franquia até então desconhecida. E foi então que fui apresentado ao que se mantém como um dos meus jogos preferidos até hoje, Final Fantasy IV .
Até então minha coordenação motora não era das melhores, não que hoje em dia ela seja excepcional, mas era realmente muito ruim naquela época. Um jogo que não me requeria precisão e tanta rapidez dos comandos era algo que me favorecia. Além disso, havia uma estória ali muito mais profunda do que eu vira até então em jogos. Aquela não era uma aventura para salvar uma princesa, mas sim uma jornada de redenção. Também havia progressão dos personagens, tanto no que dizia respeito à narrativa, quanto às suas estatísticas de combate. Ao fim de cada luta eu era gratificado com números que diziam que meus personagens estavam tornando-se mais fortes, além, claro, daquela fanfarra clássica.
”Hum… pelo que posso ver, você aprecia a narrativa deste gênero e, dentro disso, a forma como personagens podem mudar com o decorrer da trama. Também existe em você a vontade de presenciar resultados imediatos provenientes de seu trabalho, algo que nem sempre ocorre na vida real.”
– Beat ‘em ups
Enquanto para a geração anterior à minha Shoot ‘em ups eram a definição de vídeo-games, no meu tempo, quando se pensava em joguinhos, pensavam-se em jogos de’’ plataforma’’ e/ou beat ‘em ups. Não lembro ao certo qual o primeiro jogo deste gênero que tive a oportunidade de jogar, mas o arcade de The Simpsons e Final Fight me vem à mente. Pra ser sincero, minhas memórias sobre The Simpsons são bem fragmentadas, mas lembro te ter jogado, ao menos algumas vezes, com toda a minha família. Já Final Fight trás de volta os tempos do bom e velho Super Nintendo, e de eu e meu irmão descendo a porrada na maloqueiragem de Metro City. Havia a eventual briga do ”Tu me deu um soco, deixa eu descontar”, mas no fim sempre superávamos essas diferenças e conseguíamos vencer os inimigos no final. Também era um dos poucos jogos na época em que podíamos jogar os dois ao mesmo tempo, sem estarmos disputando um contra o outro.
”Sinto um pouco da ”Fantasia de Poder” aqui. A possibiliade de ser um badass, alguém forte o suficiente pra derrotar inimigos diversos no braço, sem medo das consequências. Mas, acima disso, para você parece ser prazeroso poder trabalhar em equipe com alguém próximo à você. Imagino que sua predileção por jogos coop possa ter vindo da sua apreciação por este gênero.”
-Rhythm games
Não acho que haja qualquer tipo de segredo aqui. Eu sempre gostei de música. Inferno, tirando por quando estou trabalhando, passo a maior parte do tempo com fones-de-ouvido. Isso já deve ser mais do que o suficiente para se justificar essa minha escolha.
”Sendo este o caso, imagino que você escolha seus jogos de ritmo baseado em músicas ou gêneros que você goste.”
”Bem, o primeiro jogo desse tipo que lembro de ter jogado foi Dance Dance Revolution: Disney Mix. E se por um lado eu já conhecia a franquia, por outro lado foi ser um jogo com músicas clássicas da Disney que me motivou a dar uma chance ao jogo. Então, sim, eu diria que as músicas em si são um fator forte.”
”… ok… talvez eu possa expandir mais sobre o que eu gosto sobre o gênero…”
Em um tempo em que não era tão simples encontrar músicas na internet, o que me motivava à continuar jogando o DDR da Disney era, de fato, as músicas, até porque eu sequer tinha um tapete na época, jogando-o apenas com meu Dual-Shock. E é possível que se não fosse por isso eu não seria o jogador de Ouendan, DJ Max e Project Diva que sou hoje.
Conforme os níveis de dificuldade iam aumentando, mais setas iam surgindo, cada vez com mais rapidez. De início era praticamente impossível acompanha-las, porém, com o passar do tempo, eu começava a entender. Notava que, ao contrário do que parecia anteriormente, os comandos não eram aleatórios. Eles seguiam um ordem, um padrão, um… ritmo!
E uma vez que eu compreendia isso, eu conseguia avançar, mesmo que ainda hoje eu não consiga ir para níveis de dificuldade coreanas, acabo conseguindo me divertir tanto com esses jogos que muitas vezes músicas de estilos que não sou muito fã, mas que estão presentes neles, foram incorporadas ao meu MP3.
”Também não é de se admirar que alguém que goste de ver resultados de sua evolução pessoal se sinta atraído por jogos rítmicos, onde é mais fácil de se notar a diferença entre alguém que já joga a algum tempo e alguém que acabou de começar.”
– Dating Sims e outros Jogos com Simulações Sociais
”Huh… olha só, pra alguém anti-social e com tantos problemas de se relacionar com outros seres-humanos, você parece gostar bastante desse tipo de jogo.”
”Ih… olha a hora! Que pena, parece que nosso tempo acabou. Melhor eu ir embora agora, até a próxima.”
”Ow… pera! Você realmente não quer saber se no fundo você desejaria ou não ser alguém sociável? E que tal entender seus sentimentos para com jogos que tratam da relação entre Pai e Filho?”
”… oro?…”
”Espera um pouco… eu não conheço nenhum jogo que trate da relação entre Pai e Filho…”’
”Ah, mas você gostaria de conhecer!”
”… babaca..”
”EU SOU UMA SOMBRA, O ‘EU’ VERDADEIRO!”
WOW, que texto cara. Realmente muito bem escrito, além de traçar esse paralelo sobre você e seus gosto para jogos,algo até bem corajoso ao se expor um pouco assim.
Mas olhando agora nunca parei pra pensar se os games que jogo refletem algo que eu gostaria de fazer ou de algo sobre mim. Simplesmente só jogo e encaro os resultados.
Novamente cara parabéns pelo ótimo texto.
Valeu, Ken-Oh.
Acho que tudo que consumimos (jogos, filmes, livros, comida, etc) devem falar um pouco sobre nós, apesar de que às vezes eu realmente jogo ”só pra me divertir” mesmo. Quanto à exposição, eu cheguei a me questionar se devia ter simplesmente limado tudo que fosse mais íntimo do texto, mas ao mesmo tempo, enquanto leitor, eu sinto algo diferente quando um autor compartilha algo mais pessoal na sua escrita. Acho que tentei passar um pouco disso isso.
Acredito que eu já tenha dito isso antes em algum lugar do site, mas minha vida não tem tantas histórias interessantes, então eu estou testando que tipo de textos diferentes posso fazer pra essa coluna, fico feliz que tenha curtido. 😀
Otimo texto, fiz parte desse crescimento no mundo dos games com voce querido irmaozinho e sei que agente ja teve que enfrentar bastante questionamentos sobre nossos gostos dentro desses mundinhos =) assim como voce gosto muito dos jogos que conta uma estoria baseada no crescimento de personagens, e no que tange relacionamento pai>filho acho que o walking dead faz isso bem… gone home eu nao joguei ainda mas parece ir nessa direcao tb…
Verdade, nem tinha pensado sobre isso com relação ao The Walking Dead. E coincidentemente ou não, ele é um dos meus 10 jogos preferidos de todos os tempos XD
Vou pensar no caso do Gone Home, valeu =D