O que? Mais uma review de um jogo da nova geração? Será que agoras podemos esperar um Em Outro Castelo rico e tratando dos lançamentos mais recentes e modernos? Sim, infelizmente.
Esses dias eu tive uma idéia maluca e acabei, devido a uma série de fatores pessoais, e mesmo apesar da completa falta de jogos que valham a pena, comprando um videogame da nova geração.
O sistema escolhido foi o Playstation 4, e a razão foi simples: Por já possuir um PS3 com uma conta da PSPlus, eu já possuo jogos para PS4 vinculados à minha conta. (Quer saber como fazer? Basta entrar em store.sonyentertainmentnetwork.com/ , ligar com sua conta na PSN, e adicionar os jogos de PS4 grátis à sua conta, como se fosse fazer uma compra normal).
Apesar de possuir vários jogos, nenhum deles realmente “feels” nova geração: A maioria são jogos menores como Mercenary Kings ou Resogun. Então, dentre os jogos, iniciei pelo que parecia mais o tipo de jogo que eu acho interessante: Um Puzzle platformer com uma mecânica interessante, Contrast. Mal sabia eu…
Historia
Contrast se passa em um mundo no estilo Noir. Você controla Dawn, uma mulher adulta que aparentemente é a amiga imaginária de uma garotinha chamada Didi. Didi vive com a mãe Kat, que é uma cantora de cabaré. Logo no início você percebe algo interessante: você não consegue enxergar a Kat, apenas a sua sombra.
Na verdade, a única pessoa que você consegue ver é a Didi. Ela está com saudades do pai, Johnny e quer ir vê-lo. Johnny parece genuinamente preocupado com a filha. Porém, só existe um problema: Johnny é um malandro pilantra enrolão safado, daquele tipo que se te vê passando colírio não só pede para você arranjar umas gotas, mas também tenta surrupiar o frasco.
Todos os outros personagens são mostrados apenas como sombras, que você pode interagir usando o “poder” da Dawn: ao se aproximar de uma parede iluminada, ela pode se tornar uma sombra, utilizando outras sombras como plataformas dinâmicas, que podem ser utilizadas dependendo da iluminação do ambiente.
A história então segue Didi tentando fazer com que seus pais fiquem juntos e formem uma família feliz, apesar da pilantragem inerente ao pai, que está devendo uma grana boa a uns mafiosos. Tudo isso contado através de sombras projetadas na parede. Isso leva a alguns momentos interessantes, como a discussão entre o pai e a mãe da Didi no hotel(recomendo fortemente que você assista a ela inteira antes de abrir a porta para a Didi, você saberá do que eu estou falando).
A história é o ponto forte de Contrast, e o mundo que eles tentam construir é bem interessante. O que é uma pena, já que o resto do jogo…
Visual
A direção de arte do jogo é bem bonita. O mundo é meio onírico (tipo um sonho, sua besta quadrada), com ruas que terminam em abismos com detritos flutuantes, e a atmosfera lembra os filmes Noir bizarros do David Lynch, como Mulholland drive.
Porém, todo esse detalhamento artístico é desperdiçado em um dos piores usos da Unreal Engine que eu já vi. Graficamente, o jogo é meio feio. Pior ainda, foi a primeira coisa que eu joguei no PS4, e tudo que eu pude pensar é “por que eu estou jogando no meu sistema novo com gráficos de última geração um jogo que, fora a resolução, poderia se passar facilmente por um jogo de PS2?”
Os modelos dos personagens são simplórios e as animações meio toscas, em especial a animação para quando sua personagem “engata” em algum lugar, que é em pé ereta com os dois braços para baixo (que é, bizarramente, a animação de descer segurando o guarda chuva). A má qualidade das animações dão a impressão de que o jogo é um beta, um produto inacabado. Isso sem falar nas constantes quedas de framerate, inexplicáveis em um hardware “de nova geração”. É uma pena que o pessoal da modelagem 3d, especialmente da movimentação não teve o mesmo esmero do pessoal da arte no jogo.
Toda esta reclamação sobre gráficos pode parecer mimimi, mas a sensação que dá é que estava jogando uma demo. Se o problema fosse só o gráfico, ainda dava para deixar passar, contudo…
PS: Boa parte das imagens deste artigo são promocionais. Em movimento o jogo não é tão bonito assim
Jogabilidade
Apesar de não ser exatamente uma idéia nova, manipular luz e sombra para criar plataformas parece uma idéia interessante. Contudo a jogabilidade apresenta o mesmo desleixo e “estilo beta” que os gráficos. Muitos problemas de clipping pelas paredes, colisões, personagem ficando “engatado” em lugares aleatórios e muitos outros. Estes defeitos, aliados a uma engine física que me pareceu meio estranha, levam ao tipo de jogabilidade que te faz errar várias vezes por razões aleatórias, mesmo na hora de fazer coisas simples, e estes erros vão te frustrando cada vez mais até que você começa a errar até aquilo que fazia com facilidade, de tanto que você repete o mesmo segmento.
Ainda assim, o jogo poderia se salvar caso tivesse uma mecânica interessante que levasse a puzzles instigastes. Contudo, tudo o que o jogo oferece são obviedades e puzzles simples de resolver mentalmente, porém difíceis de executar devido aos problemas de jogabilidade do jogo. A falta de inspiração dos puzzles me lembrou jogos como Rain, Crunch, Thomas Was Alone e echochrome, jogos que possuíam uma idéia de mecânica interessante porém pouca inspiração nos puzzles. Lembrou também obviamente o Lost in Shadows do Wii, que tem uma mecânica quase idêntica, porém em um plano 2d, e o mesmo problema de falta de inspiração.
Um outro defeito do jogo, que eu tinha experienciado recentemente em South Park Stick of Truth e que está cada vez mais prevalente, é a existência do save automático cuzão. “O que é isto?”, você pergunta, e eu digo: é o jogo com save automático que não só não te dá a alternativa de salvar automaticamente, mas também sempre acaba fazendo você perder progresso toda vez que desliga o jogo. Teve uma sessão relativamente longa do jogo (a do polvo, para quem já jogou) que eu tive que jogar três vezes pois o jogo só salvaria depois de eu terminar toda uma longa parte do jogo.
Outro momento entediante do jogo foi um segmento estilo “teatrinho”, que tentou meio que fazer um nod a Limbo (um jogo muito superior, by the way), incluindo o ataque de uma aranha gigante. Porém, em algo que é típico de jogo mal pensado, o segmento é tão longo quanto é sem graça, e só serviu para me deixar ainda mais com vontade de voltar a ligar meu PS3.
Para não terminar só falando mal, Contrast tem uma coisa boa a seu favor, o seu tamanho: O jogo é bem curto, então se você ainda assim resolver jogar, não perderá muito tempo.